A resposta a esta pergunta é um redondo: não! Mas isso também não significa que estejamos nos bastidores a ver o comboio tecnológico passar. Existem inúmeros bons exemplos de inovação no nosso país, de empreendedorismo e de enorme sucesso nacional e internacional, mas não bastam apenas alguns. Investir continuamente em tecnologia não é uma tendência à qual as organizações têm de aderir, é, neste momento, um argumento crucial para a competitividade, crescimento e até sobrevivência de qualquer empresa. A tecnologia e a inovação são efetivamente os grandes drivers de praticamente tudo o que fazemos atualmente.
Portugal não está no fundo da tabela, mas tem uma grande “to do list”. A maioria do tecido empresarial português é composto por pequenas e médias empresas que têm de se agarrar com unhas e dentes aos processos de transformação e modernização digital se querem conquistar mercado. E a falta de capacidade financeira e de investimento não pode ser o argumento para tudo.
Cerca de 80% das maiores empresas portuguesas ainda estão na cauda da digitalização. Os nas empresas traçam uma imagem pouco competitiva das empresas nacionais.
Existem inúmeras soluções tecnológicas ao alcance dos bolsos destas empresas. Serviços que lhes oferecem equipas dedicadas e acesso a ferramentas que nunca, ou dificilmente, poderiam ter num modelo on-premisse.
E as grandes empresas não precisam desta ajuda? Estão bem encaminhadas? Infelizmente dimensão e capacidade de investimento não são necessariamente sinónimo de boas escolhas.
Não podemos render-nos à urgência trazida pela pandemia e entregarmo-nos em desespero à primeira tecnologia que aparece. As escolhas têm de ser pensadas, ajustadas, personalizadas. Têm de estar integradas numa estratégia e visão holísticas.
Aqui há uns anos Portugal era apontado como exemplo a seguir em diferentes áreas, um pouco por todo o mundo. As telecomunicações e as iniciativas de inovação dos serviços públicos são dois exemplos. Estávamos orgulhosamente na linha da frente. Mas o ritmo de inovação tecnológica é avassalador, e o investimento tem de ser contínuo. Não dá para investir e dormir à “sombra da bananeira”, a pensar que a solução contratada aguenta os próximos anos. Não!
De acordo com a edição de 2020 do European Innovation Scoreboard, Portugal era o 12º país mais inovador na União Europeia, tendo subido 6 lugares face à posição que ocupava em 2016 (18º lugar). Na edição de 2021 estava já em 19°.
As empresas nacionais têm de fugir a esta cultura do medo que nos caracteriza e que nos torna avessos ao risco, mais calculistas, medrosos. A concorrência já não está na porta ao lado. É mundial. E o risco de não se investir de forma contínua e inteligente em tecnologia não afeta só o negócio dessas empresas, afeta o país, a nossa economia, o nosso crescimento. Sem empresas dinâmicas, modernas e competitivas como vamos reter o nosso talento tecnológico? Como vamos atrair investimento internacional?
O próprio Estado tem de dar o exemplo e criar condições para que Portugal continue a ser atrativo para os grandes investidores, negócios, talentos, empresas e eventos. Com a ajuda do Plano de Recuperação e Resiliência poderá existir nos próximos anos uma evolução a este nível. No global a IDC Portugal prevê que os investimentos diretos em transformação digital em todo o mundo acelerarão para um crescimento anual médio de 16,5% no período de 2022 a 2025, o que fará com que a transformação digital represente quase 60% de todo o investimento em TIC até o final de 2025.
Em Portugal o crescimento médio será de 14,5%, o que fará com que a transformação digital represente 50% de todo o investimento em TIC até o final de 2025, mais de 7 mil milhões de Euros. Deste investimento, a IDC prevê que 42% seja em serviço, 33% em software e 25% em hardware.
O conceito de transformação digital não se esgota num investimento tecnológico único, feito para “durar uns anos”. A inovação tem de ser contínua, porque a evolução tecnológica e a competitividade também o são. Isto não significa que as empresas tenham de investir todos os anos em algo novo. Mas têm de apostar na tecnologia certa, têm de se manter alinhadas com as tendências, têm de evoluir continuamente os seus processos e modelos de negócio para se manterem na linha da frente. É que a concorrência já não é apenas local, concorremos hoje com empresas de todo o mundo.